Não é simples dizer isso. Sofro com cada palavra lida, cada
verso rimado. Seus olhos ainda me encantam, assim como seus pensamentos. Não
consigo sentir ódio, raiva. Deveria? Creio que não. Jamais sentiria tais coisas
de alguém que somente trouxe alegrias para minha vida vazia e sem cor.
Infelizmente, este quadro pintado a óleo secou e rasgou, tornou-se até pior do
que era antes. Vazio. Agora, está faltando uma parte. E nunca mais vai ser
preenchida.
Todos dizem que sou tolo, retardado e me condenam como
imbecil por dizer tais coisas, por ser sentimental. Por quê? Por que me isolo
dentro de meus próprios pensamentos? Por que faço juras e promessas cheias de
esperança? Sim, este sou eu. Tolo, bobo, um idiota que não consegue dar três
passos sem ajudar a quem ama.
Faz dois meses que minha inspiração foi cortada, como um cordão
umbilical. Não sei se isso tem relação com os recentes acontecimentos da minha
triste e aparentemente curta caminhada neste plano, mas é a pura verdade. Porém
o acontecimento quebrou minha esperança, minha vontade.
Será que um dia conseguirei dizer adeus direito a alguém?
Será que poderei olhar para as pessoas e simplesmente deixa-las seguir seus próprios
passos, sem nem ao menos ajudar, guiar? As pessoas se julgam fortes. Caem se
machucam. Não consigo aceitar tal coisa. Principalmente de pessoas tão especiais.
Este sou eu. Murilo Lamegal. Vazio, incógnito. Sou uma
estatua de vidro esperando para ser quebrada. Sou uma anátema para mim mesmo e
para as pessoas a minha volta. Uma piada de mau gosto, um gesto obsceno. Sim,
este sou eu. A interrogação, a pergunta, confusa. Sim, sou confuso, louco.
E continuo sendo eu mesmo, depois de tudo.